Garoto Enxaqueca diz:
Quando procurava um bom texto para comentar, achei este paper aqui que gostaria de ter escrito. faz alguns anos até. (o tempo voa e etc...)
então, Garoto Enxaqueca Cara dura apresenta :
Ensaio: Sob flores escondem-se canhões : Um ensaio sobre o nacionalismo na música européia do século XIX.
Procurar na integra :
http://www.klepsidra.net/klepsidra3/musica.htmlVamos lá:
“Uma vida pelo Czar”, “Sangue Vienense”, “Polonaises”. Estes termos, por mais que pareçam, não são palavras de ordem de algum discurso inflamado, mas até poderiam ser. São títulos de composições de autores do século XIX: o russo Mikhail Glinka (1804-1857), Jonhann Strauss Jr. (1825-1889) e Frédéric François Chopin (1810-1849), respectivamente. Três autores, três obras, três países, um só nacionalismo.
Que o nacionalismo na Europa cresceu desde os fins do século XVIII e atinge seu ápice nas primeiras décadas do século XX (Primeira Guerra Mundial), é público e notório. Entretanto, quando as garras no nacionalismo alcançam o campo da música? Quanto disto se amalgamará à música e qual será o arranjo resultante da mistura com o romantismo típico do período?
O século do romantismo proporcionou diversas alterações no campo musical; a evolução do meio artístico se intensificou com as movimentações políticas e revolucionárias que sacodem a Europa desde a Revolução Francesa. Vale lembrar que o universo musical clássico, que produziu figuras como Mozart e Schubert, se deu no seio na nobreza, dentro dos palácios, nos saraus e serenatas patrocinadas pelos nobres. O mecenato como prática disseminada garantiu o aparecimento e a glória dos músicos clássicos, ainda que estes estivessem apartados do universo popular. Lembremos que a primeira ópera popular de Mozart é justamente “A Flauta Mágica”, de 1791, criada sob encomenda numa situação de necessidade econômica do músico.
A criação clássica carrega duas características extremamente importantes para a análise do período subseqüente: o desligamento de “ideais e estilos emocionais” e as peças para pequenos conjuntos de instrumentos. A primeira característica nos interessa exatamente pelo envolvimento político dos autores do século XIX e pela busca de um estilo predominantemente sentimental, características as quais discorreremos com mais detalhes adiante. A segunda nos interessa por demonstrar de forma exemplar a mudança profunda que houve no meio de difusão musical entre os dois períodos.
No ambiente recluso dos palácios, ainda que nas festas maiores, os espaços eram relativamente estreitos, os recitais poderiam ser executados por músicos solistas, os “virtuoses”, ou por quartetos e sextetos; algumas vezes privilegiava-se apenas instrumentos de cordas. Desde Vivaldi assentou-se uma tradição de arranjos de cordas: a exaustivamente executada “Pequena Serenata Noturna” (Eine Kleine Nachtmusik), de Mozart, é uma peça para apenas dois violinos, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo. Nada mais revelador sobre este ambiente estreito.
Sem dúvida, um dos fatores aos quais isto está intimamente relacionado é o comprometimento das monarquias européias, a partir da Revolução Francesa, com uma ligeira trégua entre a restauração dos Bourbons e os movimentos de 1848. A nobreza deixa de ser um porto seguro para os músicos, seja pela perda de poder ou pela possível identificação dos mesmos com ela. Outro fenômeno que aparece neste momento é o aparecimento de autores ligados aos movimentos revolucionários: assim como os neoclassicistas franceses pintaram a revolução, vários músicos, de diversas nacionalidades, se incumbiram de musicá-la.
em breve mais cópias.....